A Luz possui um significado simbólico bastante claro. Até mesmo quando dizemos que ele é “claro”, estamos usando o símbolo da luz/claridade para explica-la. Isso por que a luz é o símbolo da divindade por excelência, e o símbolo de tudo o que é superior, claro, nítido, verdadeiro por si mesmo. A luz ilumina e clareia, ela nos ajuda a perceber melhor as coisas como elas são. A luz é a base do ver, do reconhecer, do enxergar. A luz se relaciona com a consciência e a visão de tudo, assim como ao conhecimento e a sabedoria, mas não é apenas isso. Onde tudo está escuro, a luz se impõe e traz um caráter revelador, do oculto para o revelado.
O mais importante é que a luz representa a natureza de tudo o que é elevado e divino em todas as suas manifestações, como o sol, a lua, o relâmpago, o fogo etc. O nome de alguns deuses são derivados da raiz dei, que significa “brilhar”, como Dyaus Pitar, Zeus e Júpiter. Os anjos são representados com uma auréola brilhante no topo da cabeça. No oriente, mais precisamente na Índia, a palavra devas (os deuses) tem o sentido de “ser brilhante”. Ainda na Índia, os redentores e reformadores da humanidade são chamados de “iluminados”. O Buda Amitabha é o Buda dos céus, cujo significado é “Luz Infinita”.
Ainda no Budismo, agora no Tibetano, monges realizam treinamento espiritual durante anos, décadas ou uma vida inteira para, após a morte, se integrarem a “Clara Luz” do Bardo (espaço entre uma vida e outra). Segundo a tradição Budista Tibetana, a Clara Luz pode purificar alguém que se fundiu com ela e transmutar todo o seu karma. Nesse sentido, os mais recentes estudos sobre as Experiências de Quase-Morte confirmam a existência dessa Luz branca, de natureza infinita (segundo relatos) que se apresenta àqueles que desencarnaram recentemente. No Cristianismo temos Jesus que, segundo os evangelhos, proferiu a famosa frase “Eu sou a Luz do mundo” (Jo 8, 12).
Desde a antiguidade a luz foi associada ao simbolismo da criação e do divino. “Fiat Lux” ou “Faça-se a Luz e a Luz foi feita” (Gn 1, 3) é um dos mais conhecidos trechos da Bíblia e expressa bem o papel e a importância da luz no ato primordial da Criação. Luz é a primeira vibração, ela vem dar ordem ao caos primordial. Sendo o primeiro ato divino criador, a luz toma, sem dúvida, um valor soberano diante de todas as outras coisas do Universo criado. É possível que essa passagem do Genesis indique que a partir da luz todas as coisas são provenientes. Por outro lado, antes de todas as coisas existirem, a luz já era. Mas a luz só pode ser concebida tendo-se como referência a escuridão. Num dia de sol, é impossível observar as estrelas no céu a olho nu, mas conforme o crepúsculo vai seguindo seu curso, a luz das estrelas vai se tornando mais e mais visível. Isso prova que a luz individual só pode existir a partir da escuridão, tornando-se mais e mais visível. Apesar da escuridão ser condição sine qua non para a existência da luz, diz-se que a luz, em essência, independe da escuridão.
Enquanto a luz é o símbolo do bem, do verdadeiro e da consciência, a escuridão é o símbolo do mal, do pecado, da inconsciência. Diz-se que o céu é claro, e o inferno sombrio. Muitos esoteristas fazem uma analogia entre o bem e o mal correlacionando-os com a luz e as trevas. Tudo que é o bom é iluminado e claro; tudo que é mau é escuro e nebuloso. Mas a metáfora não para por aí. Há ainda um ensinamento mais importante sobre a luz e a sombra e a natureza verdadeira do bem. O bem é representado pela luz, e as trevas são representadas pela ausência da luz. Nesse sentido, só o bem possui uma realidade inerente, possui uma essência; as trevas, a escuridão, não possui qualquer realidade intrínseca, mas a escuridão é a ausência da luz, ou seja, é apenas a falta ou a carência do bem. As trevas, assim como o mal, não existe em si mesmo, ele é tão somente a ausência do bem. Tudo que é mal é um distanciamento do bem e não tem realidade per si.
A maior fonte de luz é o sol. Jesus era visto como o sol, o simbolismo do sol invictus. Outros deuses ou mestres da humanidade eram associados ao sol. O próprio Gautama Buda era chamado de “Sol Buddha”. Isso por que o sol tem luz própria, ele não depende de qualquer fonte externa para gerar sua luz, calor e energia. Da mesma forma que o sol, se diz que Jesus e outros espíritos superiores, espíritos puros e perfeitos, não precisam de qualquer luz externa, pois eles são capazes de gerar sua própria luminosidade. Afirmam os esoteristas que os seres luminosos despertaram para a verdade da luz divina presente em cada aspecto do cosmos e por isso possuem uma luz interna. A luz desses seres perfeitos ou próximos da perfeição é a mesma luz cósmica do início da criação divina, que deu origem a todos os mundos. Assim como a luz física tem a capacidade de nos fazer enxergar as coisas materiais, a luz espiritual emanada por esses seres tem a propriedade de nos fazer enxergar os ensinamentos espirituais e a enxergar a nós mesmos. Quando comungamos com os espíritos de luz, eles nos ajudam a ver e entender certos aspectos fundamentais da vida que antes eramos incapazes de perceber. Eles iluminam nossa consciência. Somos como uma vela que tem o potencial de queimar a chama. Os mestres não devem ficar todo o tempo irradiando sua luz e energia para nós, mas sim nos ajudar a despertar a chama sagrada que existe dentro de cada um. Assim, diz-se que os mestres são como uma vela que acende uma outra vela (que somos nós).
O sol, apesar de ser um exemplo perfeito da expressão da luz no mundo físico, não é o único símbolo relacionado à luz. O sol está associado ao simbolismo do fogo e do olho. Vamos explicar esse ponto para que não pairem dúvidas. O sol é circular; o olho também é. O sol produz a luminosidade que nos permite enxergar; o olho é o órgão de nossa visão que também nos permite o sentido da visão. Os esoteristas afirmam que o olho (espiritual) que irradia luz, ao invés daquele que capta a luz, pode ver e perceber qualquer coisa, pois independente da luz localizada, ele ilumina cada aspecto do cosmos e assim pode entrever nuances que, a depender da luz externa, seria impossível perceber. O ser humano possui um olho espiritual, no centro de sua testa, que possui essa função. É o chakra coronário, que tem uma contraparte física: a glândula pineal. Quando este centro psíquico estiver plenamente desperto, ele agirá tal como um sol, terá luz própria e irradiará em todas as direções, emanando luz onde não há luz. É assim que se tornam possíveis fenômenos como os da clarividência, visão espiritual, desdobramento, produção de vários fenômenos paranormais etc.
Na mitologia, vemos esse esquema bem representado no mito de Apolo, o deus sol. Dizem que Apolo “tudo sabe e tudo vê”, numa clara referência a visão espiritual. Além dele, um dos mais conhecidos símbolos do Esoterismo é o chamado “Olho que Tudo Vê”, símbolo adotado por várias escolas iniciáticas e confrarias esotéricas. O Olho que Tudo Vê é representado como um sol que irradia seus raios luminosos e abre espaço para a visão de qualquer coisa existente, não apenas no sentido físico, mas também no sentido espiritual. Não é atoa que no Egito antigo os dois olhos eram relacionados ao sol e a lua, os dois astros que emitem luz à Terra: o sol era associado ao olho direito e a lua ao olho esquerdo.
O fogo possui uma relação também muito estreita, porém ele é considerado uma manifestação do poder infinito da luz dentro de uma escala menor. No sol existe numa grandeza macrocósmica; no fogo existe numa grandeza microcósmica. O fogo ainda é dependente do exterior, o vento pode alimenta-lo ou apaga-lo, a água pode apaga-lo, a terra também o alimenta, vários elementos podem influencia-lo; o sol é invulnerável, não depende de nada externo e brilha irradiando a uma distância incomensuravelmente maior.
No Esoterismo, uma das mais importantes imagens do despertar espiritual, senão a mais importante, é a do ser saindo das trevas e indo em direção à Luz. Segundo os esoteristas, essa é a meta suprema a que toda alma deve aspirar. Em Platão vemos claramente essa metáfora no famoso Mito da Caverna, onde os habitantes da caverna, que antes estavam aprisionados e se relacionavam com o mundo através das sombras da realidade(ausência da luz) devem sair da caverna (da escuridão) e encaminhar-se em direção à Luz que existe fora da caverna. Nas iniciações das escolas de mistério do Egito antigo, os candidatos davam os primeiros passos da iniciação em caminhos escuros e subterrâneos. Conforme ultrapassavam as provas iniciátivas, podiam subir a fases onde existia mais luz. O caminho da escuridão para a Luz é a representação o caminho espiritual por excelência.
O simbolismo da luz também está presente nos nascimentos de heróis, deuses e mestres da humanidade. Na China existem histórias de que heróis e fundadores de dinastias nasceram após a irradiação de uma luz divina no aposento de suas mães. O nascimento da linhagem de Gengis Khan teria origem nesse nascimento divino através da luz, tal como afirma uma princesa antiga sem marido. Ela conta que um ser de luz a visitou algumas vezes a noite e uma luminosidade penetrava em seu ventre. O nascimento divino está presente em várias tradições antigas sob várias formas e a luz frequentemente se torna co-partícipe nesse processo.
Apesar de a luz ser o símbolo da divindade, não se pode fixar nossa olhar e mente nela durante muito tempo, sob pena de sermos acometidos por algumas consequências indesejáveis. Quando não se está preparado, a luz pode causar alguns prejuízos àqueles que dela se aproximam. Essa aproximação deve ser feita com todo cuidado, pois a luz pode ofuscar as trevas. Por esse motivo é justificada a morte de Jesus na cruz: a “Luz do mundo”, um ser espiritual luminoso, que veio trazer ensinamentos sublimes que revelava a verdade ofendeu as trevas interiores dos individuos de sua época, que o levaram a tortura e à morte com a crucificação. Mas da mesma forma que não se pode destruir a luz devido a sua natureza sutil e imperecível, não se pode matar um Filho da Luz, mas apenas destruir seu corpo material e perecível.
Nas tradições espirituais é dito que os buscadores que se jogam com exagero na busca por Deus acabam ficando cegos com a quantidade de luz que recebem. Tudo deveria ser feito com prudência e de forma natural, sem forçar. Observe o sol por alguns minutos e o resultado inevitável será uma escuridão em nossa vista. Cada pessoa tem um grau de relacionamento com a luz dentro de seu nível e esse deve ser aumentado de forma gradual. Isso fica patente nas religiões dogmáticas, que congelam os princípios espirituais à vista de seus adeptos, da mesma forma que o olho fica com a imagem marcada pelo excesso de luz solar.
O simbolismo da Luz poderia se ampliado nessa explanação ad eternum, dado sua profundidade. É importante ainda mencionar que a natureza do divino, que é luz, é a mesma natureza do ser humano, que em ultima instância, também é luz. No entanto, é uma luz inconsciente de si mesma. O objetivo da vida humana e cósmica é tomar consciência da luz primordial que habita eternamente em nosso interior.